Vem e vão as horas, sinto o ar frio que abraça meus pés descalços, olho para o relógio com ponteiros quebrados, faço silenciosamente uma oração cética para que o tempo pare. Mas vem e vão as horas... Já passou das dez da manhã, ainda não passou meu sono.
Já não assisto televisão, cansei das velhas novas notícias sobre o novo velho caos.
Já não escuto músicas, cansei dos meus velhos sentimentos lembrados pelas velhas melodias.
Já não tiro fotos, repugna-me o rosto cansado expresso pelas vastas olheiras, que avançam sobre minha pele branca e acinzentam meu olhar.
Já não falo versos, cansei do sonar da minha voz rasgando e ringindo poemas tristes.
Já é tudo claro, confuso, ofuscante, tudo já é vão.
... As nuves cinzas carregadas aproximam-se pingando sonhos cristalizados ...