quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tudo que é vão

Vem e vão as horas, sinto o ar frio que abraça meus pés descalços, olho para o relógio com ponteiros quebrados, faço silenciosamente uma oração cética para que o tempo pare. Mas vem e vão as horas... Já passou das dez da manhã, ainda não passou meu sono.
Já não assisto televisão, cansei das velhas novas notícias sobre o novo velho caos.
Já não escuto músicas, cansei dos meus velhos sentimentos lembrados pelas velhas melodias.
Já não tiro fotos, repugna-me o rosto cansado expresso pelas vastas olheiras, que avançam sobre minha pele branca e acinzentam meu olhar.
Já não falo versos, cansei do sonar da minha voz rasgando e ringindo poemas tristes.
Já é tudo claro, confuso, ofuscante, tudo já é vão.
... As nuves cinzas carregadas aproximam-se pingando sonhos cristalizados ...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Imaginado

Desperto no meio da noite com um calafrio, nada de temores, apenas a doce sensação semelhante quando o afago dos leves toques dos dedos percorrem a coluna vertebral até alcançar o pescoço e acariciar os cabelos...
O quarto escuro, a noite escura, a fraca luz lunar adentrando as venezianas fechadas, o sono esvaindo-se entre vultos e pensamentos, como as cores que somem dos olhos tomadas pela pupila dilatada impregnada de sonhos e imagens.
Tudo é espera, é pausa. Quantas lembranças inconscientemente carrego? Quantas imagens conscientemente imagino? Modelo minhas ilusões, afogo a solidão em falsas companias.
Procuro algo real enquanto a mastigo a insônia criada pela minha própria ausência.
O que difere o real do imaginado? Quem arriscaria tornar-se real para alguém que é simplesmente imaginado?
...
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sábado, 3 de janeiro de 2009

Temporal


Está vendo o temporal?
Ele chegará em breve do mesmo jeito voraz. Ventando forte, levando meus pensamentos... Aqueles que eu já não poderia guardar em mim.
Escuta o chamado que vem no som do trovão - até a lua se esconde na noite.
Cá estou eu novamente, no meio da rua, na chuva, em meio aos clarões e relâmpagos, entregue a tempestade do meu próprio âmago.
Não consigo dizer sim, não consigo dizer não, não consigo pensar em nenhum plano ou possibilidade. Alguma ausência permaneceu por dentro, e dentro é tão escuro...
Tenho sonhos remendados que nem sei onde os guardo, quero achá-los dentro de mim!
Sinto-me meio boba, como a criança que aguarda ansiosamente para que o conto de fadas torne-se real, e quando fecha os olhos enxerga um mundo colorido e louco.
Ainda tenho este mundo escondido por dentre minhas veias, correndo junto ao sangue e energia do meu ser, mas não encontrei nenhum corajoso ser, que pudesse entrar nesse estranho mundo, nenhuma infantil criatura que queira jogar comigo, lançar dados, apostar vertigens.
Qual será o próximo caminho?
Cansei de batalhar em duelos onde sou meu oponente.